Céu limpo mas com nuvens
Deambulações intelectuais sobre isto e aquilo...
O casamento dos monegascos

Cada vez acredito mais que Portugal é um país de autistas em que as pessoas preferem alienar-se da sua realidade para viver ao rubro a dos outros. Ontem, mais uma vez, as televisões, sobretudo a sempre coscuvilheira TVI, debateram e rebateram o casamento do príncipe do Mónaco com uma campeã de natação. E o mais fantástico é que este tipo de transmissões têm sempre audiência, o porquê é que se desconhece. O gosto da gente portuguesa pelos casamentos reais pode ter duas interpretações: ou se trata de um saudosismo camuflado pelo sistema monárquico, ou então, de uma tentativa de esquecer a triste situação do Zé Povinho onde não há glamour nem capelines que nos protejam a cabeça do sol da miséria. Certo, certo é que os tugas lá vão ficando colados à T.V. e comentando isto e aquilo sobre os noivos, o Mónaco e a vidinha que têm os monegascos. Esquecendo, porém, que vivem no sistema republicano há um século e que é nessa República (das bananas, dos ananases, das uvas, dos pêssegos…) que têm de concentrar a sua atenção. Porque aqui o único casamento que temos na actualidade é o do país como FMI e o divórcio que se augura desde já vai nos custar os olhos da cara sem os quais já não podemos assistir aos casamentos reais.