Céu limpo mas com nuvens
Deambulações intelectuais sobre isto e aquilo...
Recordar é viver

Quando pensamos nas coisas que passaram e não voltam mais sentimos aquele friozinho no estômago. Quero dizer as coisas boas, claro! Porque as más nós até podemos recordar mas não queremos, de forma alguma, que voltem. Hoje estou a sentir esse friozinho no estômago porque ouvi uma música que muito me recorda uma época da minha vida, em que talvez não tenha sido feliz mas estive quase a sê-lo. Detesto esta mania que eu tenho de associar músicas a determinadas situações e volta não volta toca a música e lá estou eu de regresso ao passado. Ás vezes, é divertido… Mas a maior parte das vezes, é nostálgico, rasando o triste. A música é imprescindível na minha vida, talvez por isso aconteça que nos momentos mais marcantes eu tenha de inventar sempre uma banda sonora. Ao fim ao cabo, o que seria de nós sem recordações?? Talvez seja esta capacidade de ter memória e de reviver o passado que nos torna mais humanos. O problema é que recordar tem muitas vezes implícita a realidade da perda, nós recordamos sobretudo aquilo que já não podemos viver outra vez porque simplesmente perdemos a oportunidade, a pessoa x ou y, ou outra coisa qualquer. Diz aquela música velhinha que “Recordar é viver” e portanto eu nos meus pensamentos embalados pelas melodias mais doces (re)vivo episódios desta minha vida. Pena que a possibilidade de voltar para trás não faça parte dos nossos atributos porque eu seria uma daquelas que faria quase tudo diferente. Quase, porque aquilo que eu mais recordo é uma história especial na qual não mudaria nem uma vírgula.
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Pelos caminhos da anarquia

É inevitável que por estes dias se fale em Reino Unido, Londres e zaragata. As opiniões do povo tuga têm sido muitas e diferentes, com uma ala chocada e apreensiva e outra que já defende a imitação do triste modelito no território português. E esta divisão de opiniões é, quanto a mim, o verdadeiro cerne da questão, isto é, divide-se uma Pátria e os tumultos começam a rasar aquilo a que se chama uma guerra civil. No Reino Unido podemos observar que os motins de jovens têm já como oposição milícias londrinas, e não só, que surgiram para defender os seus bens, as suas famílias e a sua terra. É forçoso que tal aconteça pois se por um lado uns legitimam a sua violência usando de argumentos que englobam a sensação de xenofobia, racismo e desigualdade, por outro lado existem aqueles que encontram na violência dos primeiros a razão para a sua. As sociedades actuais são verdadeiramente complexas e, como prova o caso inglês, qualquer acontecimento pode servir de motivo para acender o rastilho e gerar uma onda de violência sem precedentes. As pessoas, vítimas de uma vida extremamente stressante aos mais variados níveis, são recipientes em que a água se encontra em ebulição e acaba por transbordar. Depois disso ninguém, nem nada, pode suster o ímpeto daqueles que explodiram e que já só têm por horizonte a agressividade desnorteada e gratuita. Estes jovens londrinos estão precisamente neste registo: agem de forma hostil mas não têm quaisquer objectivos concretos, destroem por destruir, saqueiam por saquear e lá vão pelos caminhos da anarquia chalada. Não percebem que estão a contribuir ainda mais para agravar os problemas futuros e que esses problemas, sendo eles também ingleses, são problemas deles. Eu, embora criticando vezes sem fim a partidocracia em que vivemos, nunca augurei nada de bom para aqueles que se querem governar a si mesmos. É necessário algum tipo de ordem pois os caminhos da anarquia são demasiado hediondos e irreversíveis.