Céu limpo mas com nuvens
Deambulações intelectuais sobre isto e aquilo...
A purificação pela morte

Sempre que morre uma figura pública as televisões inundam-nos com as mais diversas declarações sobre o sucedido. Essas declarações têm algo em comum: nelas o morto ou a morta são sempre descritos como pessoas fantásticas que partiram cedo demais (mesmo que já tenham 90 anos). Assim sendo, essas pessoas transformam-se em super-heróis justamente porque morreram, como se a morte tivesse sobre elas um efeito de purificação. Dou por mim a pensar nos casos de Fernando Pessoa ou de Mário Sá-Carneiro, incompreendidos na sua época, vistos como lunáticos, hoje são expoentes máximas da literatura portuguesa. Mas se acaso ainda estivessem entre nós talvez assim não fosse. Na minha singela opinião, não seria melhor valorizar a pessoa enquanto ser vivente? Na maioria dos casos acontece precisamente ao contrário: a pessoa enquanto viva só recebe reparos e críticas e depois de morta é aplaudida e lisonjeada. Para mim aquilo que a pessoa é em viva será sempre em morta, ou seja, se não gostava dela por isto ou por aquilo não passarei a admira-la porque morreu. Se o fizesse iria cheirar a hipocrisia. Afinal apenas muda a condição, mas as atitudes prevalecem para sempre.