Céu limpo mas com nuvens
Deambulações intelectuais sobre isto e aquilo...
A (in)justa causa

Por estes dias muito se tem falado de despedimentos, das causas que podem justifica-los e da justiça das mesmas causas. Conclui-se portanto que despedir é obrigatório e que a discussão está nos argumentos que se usam para dispensar um trabalhador. No entanto, justiça sempre foi e é um conceito marcado pela relatividade. O que pode ser justo para mim é de certo injusto para outros e assim sucessivamente. A justiça depende do contexto em que estamos e de como observamos aquilo que deve ou não ser justo. Evidentemente, que o trabalhador não achará justo perder o trabalho, deixar de auferir um salário e prescindir da capacidade de pagar contas, comer, vestir e calçar. Contudo, aquele que despede, o patrão ou chefe, não acha justo pagar um salário a alguém que para si não é produtivo e mandria no trabalho. Ou seja, a mesma questão, pontos de vista diferentes. Mas colocando de lado toda esta filosofia, na prática apenas um dos lados será prejudicado: o trabalhador. E no topo de toda esta questão o seguinte: deixará a justa causa de ser necessária para despedir? E, nesse sentido, qualquer pessoa poderá ser despedida só porque sim? Passará a salvaguarda do nosso posto de trabalho a depender do chefe gostar ou embirrar connosco? Estas são as perguntas que nós, trabalhadores, queremos ver respondidas. Não obstante, os nossos governantes estão mais preocupados em esmiuçar o direito do trabalho e a Constituição procurando avidamente razões para lixar o povo tuga e agradar à noiva Troika.
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A Europa de olhos em bico

Inspirada pelo Henricartoon apeteceu-me escrever algumas linhas sobre chinesices e afins. É verdade que com o passar dos últimos anos a China e o Oriente em geral têm ganho terreno ao Velho Continente. E esta expressão, Velho Continente, diz tudo: a Europa está velha! Está velha nas suas estratégias políticas, económicas e sociais. Bem sei que o progresso dos chineses em território europeu, sendo Portugal um exemplo dessa expansão, se deve a alguns motivos menos éticos como são a exploração da mão de obra ou mesmo o trabalho infantil, no entanto, com o dinheiro a escassear nas carteiras as pessoas têm de esquecer os valores morais e optar por comprar onde é mais barato. Contudo, colocando de lado estes aspectos menos positivos, existem diferenças significativas entre europeus e asiáticos que fazem a diferença no que diz respeito ao progresso económico. Sejamos francos: os europeus gostam muito pouco de trabalhar e a sua cultura pautasse antes de mais pelo ócio e pela procura sistemática do prazer com pouco esforço. Já os asiáticos têm o trabalho inscrito no seu ADN e para eles o tempo é sem dúvida dinheiro. Na Ásia parece-me impossível alguém pedir crédito para ir passar férias não sei onde. Na realidade, na China e arredores, a palavra férias não faz sentido porque não combina com produtividade, dinheiro e afins. São estas disparidades culturais que definem os ritmos de cada Continente. E assim, enquanto a China acelera a caminho do primeiro lugar no pódio, a Europa arrisca-se cada vez mais ao último lugar da tabela.
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A hipócrita caça ao Alberto João

Se há coisa que me tira do sério é a hipocrisia. Hipocrisia significa fingir virtudes, crenças e sentimentos que afinal não se tem. Ora perante esta explicação nada mais apraz dizer senão: os nossos governantes são doutorados em hipocrisia. Num país em que se chamam “doutores” a meros licenciados porque “doutores” de verdade eles nunca serão, os políticos batem recordes na capacidade de se doutorarem, nada mais, nada menos, do que em hipocrisia. Tenho assistido estes dias a uma verdadeira caça a um homem, homem esse Alberto João Jardim de seu nome, homem esse sempre conhecido pelo seu temperamento sarcástico e rebelde, homem esse que governou a Madeira como da sua casa se tratasse, homem esse que mais claro nos procedimentos e maneira de estar na vida não podia ser. E é neste último ponto que entra a hipocrisia. É que agora os excelsos governantes, e afins, da terra tuga vêm dizer que desconheciam por completo a condição económica do arquipélago madeirense. Desculpem lá as mentes mais sensíveis mas eu não acredito! E não só não acredito que desconhecessem o tal “buraco” nas contas do Alberto João, como ainda ouso dizer que além de conhecerem o tal o “buraco” alguns contribuíram também para torna-lo maior. Esta mania que as pessoas têm de fugir com o rabo à seringa enerva-me, tanto quanto o facto de se aproveitarem de alguns aspectos para “bater no ceguinho” e pintar o quadro à sua maneira. Não sou fã do Alberto João mas há uma coisa que sou: adversa aos hipócritas e falsos moralistas.
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A idade do apagão

Muitos ainda consideram a Idade Média como a Idade das trevas, do obscurantismo, do breu. A verdade, é que a Idade do apagão é agora. Com o custo da electricidade a aumentar em 30% como ora se prevê muitos serão aqueles que estão condenados a viver na mais densa escuridão. Olhar para um futuro em que os bens essenciais (sim porque a electricidade é hoje um bem essencial) se revelam para a maioria das famílias como algo inacessível é frustrante. E mais do que frustrante é revoltante. Vivemos num progresso retrocesso em que quanto mais para a frente caminhamos mais longe do bem-estar social estamos. E a revolta é sobretudo uma: são sempre os mesmos a pagar! Os governantes de hoje esquecem-se das pessoas em prol das benesses económicas. Deplorável mas verídico. Enfim, lá teremos de voltar ao velhinho candeeiro a petróleo ou a azeite. Mais uma pena a que o povo tuga, inocente, foi condenado pelos seus dirigentes, os verdadeiros culpados.
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O adeus ao Magalhães

E pronto, poucos anos depois de ter iniciado as suas viagens pelos mares do primeiro ciclo, lá se foi o Magalhães, naufragado nas intempéries da crise e no maremoto dos cortes da despesa. Bandeira do anterior Governo, que se preocupou em criar um Portugal tecnológico, o Magalhães não encontrou apoios no actual Governo. Tristes ficam as crianças que tinham no programa e-escolinha e no Magalhães a sua primeira hipótese de contactar com um portátil e de navegar na Internet e tudo isso a baixos custos. Enfim, que ao menos exista a esperança do dinheiro outrora canalizado para este fim ser agora melhor utilizado. Resta concluir que o nome adoptado por Sócrates para designar estes computadorzecos foi o melhor. Senão vejamos: Tal qual o navegador português que se lançou à descoberta dos mares sem fim, também o Magalhães computador chegou cheio de ambição às mais diversas escolas, no entanto, ambos os Magalhães, tanto o navegador como o computador, acabaram com as expectativas goradas e naufragaram no mar da desilusão. E ainda dizem que um nome não traz um destino!