Céu limpo mas com nuvens

Os meios de comunicação fazem saber que o regime de Khadafi está prestes a cair. Para grande parte do Mundo ocidental, e até para uma pequena parte do Mundo oriental, esta notícia é recebida com grande agrado. Contudo, e lá vou eu ser mazinha outra vez, há uns tempos atrás essa fatia dos agora opositores do regime líbio estavam em paz com o mesmo e essa paz era-lhes bastante vantajosa. Sempre se soube que Khadafi não respeitava os direitos humanos e que o seu regime era ditatorial, ainda assim o mesmo Khadafi recebia e era recebido pelos líderes europeus como um sorriso na face. Paralelamente, Dalai Lama aquando da sua visita a terras tugas causou desconforto e não foi oficialmente recebido por ninguém. Perante tal só posso deduzir que, apesar de terem as mãos manchadas de sangue, amigos são aqueles que podem oferecer riqueza. Todos os outros, independentemente de clamarem pelos mais altos valores como são a PAZ e o AMOR, não recebem a guarida daqueles para quem esses valores só atrapalham. Para ser simplesmente sincera, revolve-me as entranhas que as pessoas se vendam ética e moralmente por algum petróleo e depois, quando a coisa dá para o torto, se venham armar em defensores idóneos dos Direitos e da Dignidade Humana. Hoje aplaudem a queda de Khadafi mas ontem chamavam-lhe parceiro, um parceiro económico que ajudou muitos a encher os bolsos à custa de um regime cru e duro. Onde entra o povo líbio nesta história? Entra no dia em que esse povo se lembrou em lançar uma revolta, revolta essa que já dura há meses e que lhe continua a custar a vida. Recebem um hipotético apoio de uns quantos que, fugindo com o cu à seringa, os incitam a ir para a frente da batalha e a dar a sua vida por aquilo em que acreditam. Mais uma vez o povo é usado como carne para canhão. E quando Khadafi cair o que virá a seguir? Uma interminável guerra civil? Uma crise humanitária? Quem sabe… Infelizmente, são sempre os mesmos a sofrer e essa é a única certeza que existe.

A fome atingiu três novas zonas da Somália, incluindo a capital Mogadíscio,  onde se concentram os deslocados em fuga de uma grave seca que afecta toda a região do Corno de África. Este alerta foi dado pela ONU numa altura em que esta realidade se transforma aos poucos na maior crise humanitária dos nossos dias. Perante tal cenário compreendemos, ou devíamos compreender, o quão despropositadas são as nossas reclamações e queixas sucessivas. Quantos de nós, felizmente, não conhecem a sede nem a fome? E é talvez por não as conhecerem que muitos são indiferentes a estas calamidades. Aqui fica o meu singelo apelo para que nós, que já comemos e bebemos hoje, nos informemos das formas existentes para ajudar o povo da Somália. Porque qualquer ajuda, por mais ínfima que possa parecer, faz a diferença entre a vida e a morte num contexto em que esta última se banaliza face à primeira. Deixemos de olhar apenas para os nossos umbigos! Quaisquer palavras que eu posso escrever serão muito pouco face a esta realidade atroz que nenhum conceito pode descrever. A Humanidade existe e nós só temos de fazer jus à nossa condição humana. Viremos as nossas atenções para o Corno de África e, amanhã ou depois, outros virarão as suas para a caquéctica Europa. Porque ninguém conhece o futuro e na solidariedade de hoje pode residir a ajuda num dia depois de amanhã.