Céu limpo mas com nuvens
Deambulações intelectuais sobre isto e aquilo...
Uma casa pouco pia

A Casa Pia, ou melhor, a sua direcção, diz ter ficado muito magoada com o processo que envolveu a instituição e que durou dez anos. Agora eu pergunto-me: E as crianças a quem foram perpetrados os abusos? Será que a sua mágoa é menor? Estas declarações da excelsa directora Maria Cristina Fangueiro só demonstram mais uma vez que o que a instituição Casa Pia pretendia é que os abusos constantes cometidos sobre os jovens continuassem no obscurantismo. A minha mágoa, enquanto cidadã e pessoa a quem repugna sobejamente tais atitudes, é outra e prendesse com o facto da justiça não só ser morosa como ineficaz. Senão alguém me diga: Quem são os verdadeiros culpados? Onde é que estão agora esses culpados? E como foi possível que alguns culpados nem à barra do tribunal chegassem? Todas estas perguntas sem resposta é que deveriam causar mágoa e não a imagem de uma Instituição que sempre foi o que se sabe e que só está interessada na sua aparência exterior. A Dona Maria Fangueiro pode dizer o que quiser mas os abusos vão continuar a existir! Infelizmente, para quem os sofre e para quem os sofreu e que depois de tanta exposição viu goradas todas as expectativas de ser feita a verdadeira justiça. Na verdade, sejamos francos: o Processo “Casa Pia” foi uma fantochada em que mais uma vez a verdade dos factos foi esquecida perante interesses mais altos. Nos dias de hoje os valores morais e civilizacionais são muitas vezes atropelados por valores pecuniários, entre outros que nada têm de ético, e isso é encarado como normal, banal e aceitável. Pois para mim é assim: a Casa pia não deveria ter ficado apenas magoada mas ferida de morte! Só com o fim dessa instituição prevaricadora acabaria o sofrimento daqueles que dela têm de fazer parte. Caso contrário, os abusos continuarão até que algum dia alguém se lembre de desencadear uma nova e interminável batalha contra a vergonha que todos vêem mas de que poucos ousam falar.